Era março de 1964, estava uma noite bonita, quando começou a chover. Foi quando ele entrou, Médici estava todo molhado e nervoso, pediu o de sempre, corte bem rente que deixavam as costeletas quadradas. Eu sabia que ele cortava assim para não voltar tão cedo, pão duro.
Quando chegou Castelo Branco os cinco começaram a discutir Geisel e Figueiredo se calaram, e Costa e Silva não se conteve. Discutiram muito sobre a ambiguidade da denominação do período, com medo de ironias, mas já estava decidido, era instituida a Ditadura Militar.
Castelo Branco e Costa e Silva(Costa e Silva são apenas uma pessoa) não apareceram mais lá. Médici estava impaciente, pois depois de anos chegara sua vez de governar.
Foi num súbito momento de desespero que apareceu, Delfim Neto dizendo que Augusto Rademaker, vice de Médici, iria fazer a costeleta redonda. Todos logo descofiaram de uma tentativa de Golpe, imediatamente ele me pediu que fizesse o corte antes que Augusto aparecesse em público, assim o fiz, tempo depois descobriu-se que o Guto não estava com essas pretensões. Delfim levou a maior bronca da história, e foi obrigado a criar o "Milagre Econômico".
Certa vez eu estava muito doente, e não pude ir trabalhar, era justo o dia em que o presidente viria fazer a barba, dei instruções ao meu substituto exatamente como fazer, primeiro o lado direito e depois o esquerdo. Dois dias depois soube que fora encontrado boiando no rio, acredito que ao olhar para o espelho ele confundiu os lados.
Já era tarde, Médici não costumava aparecer aquele horário, era praticamente noite, disse que se atrasou por que estava muito trânsito entre o Rio e Niterói. Quando ele entrou acabou a luz, foi então que resolveu construir a ponte Rio-Niterói e a Usina Hidrelétrica de Itaipú.
Todos sabiam que seu mandato estava no fim, mas ele relutava em admitir isso. Geisel entrou com tudo no salão, perguntando se Médici tinha a intenção de usar óculos, eram os boatos que corriam. Os dois entraram em um bate-boca fenomenal. Isso eu não iria admitir nunca ali, gritei com eles, e deixei claro o novo lema da barbearia: "Ame-a ou Deixe-a". Lógico que eu era a melhor opção da região, e eles me agraciaram de diversas formas.
Mas percebia-se que o regime Militar estava em decadência, as muitas decisões difíceis fizeram com que eles engordassem, não iria durar muito. O que alguns anos depois foi comprovado. O McDonald´s e a Páscoa venceram. O Regime já era!.
coluna postada no site: www.trilhafilmes.com.br
sábado, 16 de junho de 2007
Memórias do barbeiro (1975)
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